Artigo: As eleições de 2018 e os desafios do Partido Verde

Artigo: As eleições de 2018 e os desafios do Partido Verde

04 de Maio de 2018

As eleições de 2018 são consideradas as mais incertas da nossa história. Não podemos dizer que exista apenas uma causa para termos chegado a esse ponto, senão inúmeros motivos que têm levado, ano a ano, ao desinteresse e ao descontentamento da população para com o sistema político brasileiro.   

Pierre Bourdieu, famoso sociólogo francês, afirmou que as democracias representativas, como é a nossa, sofriam de um fetichismo político que derivava do processo de delegação. Com isso, queria dizer que em democracias onde os representantes são eleitos pela população, o maior problema está em esses representantes colocarem-se como superiores aos representados à medida que ocupam os cargos de poder. Isso cria, na visão de Bourdieu, um processo de alienação política. Mas por que ele usa o termo “fetichismo”? Para dizer que essa separação entre representante e representado é uma criação de nós mesmos, ou seja, um produto da cabeça do ser humano.

Rousseau, ícone dos contratualistas, defendia que as democracias que se fizerem representativas, precisam eleger presidentes, deputados, governadores, que se reportem àqueles que os delegaram poder. Não apenas nas eleições, mas em todos os momentos enquanto a relação de representação estiver estabelecida. A isso chamamos accountability.

Faço essa introdução para demonstrar o que é a essência do meu argumento: o sistema político brasileiro precisa rever as suas relações de delegação, abrindo a oportunidade para que seja um espelho dos interesses do povo, pois é ele a fonte originária poder.

Passamos por processos dolorosos nos últimos anos com um profundo impacto nas nossas relações, não apenas políticas, mas também culturais e sociais. O povo brasileiro parece dividido em opostos de um espectro ideológico e os níveis de intolerância para com o diferente parece ter aumentado a patamares alarmantes. Vejo opiniões divergentes do pensamento hegemônico sendo cerceadas, amizades sendo desfeitas, pessoas perdendo suas vidas na luta pelo que acreditam.
 
O diálogo se transformou em monólogo. A ideia de política foi difundida pela imprensa como o lugar da corrupção, embora tenhamos muitas pessoas boas fazendo política. Infelizmente, “separar o joio do trigo” será um trabalho hercúleo quando poucos estão abertos a ouvir.

Por sorte, o Partido Verde - pelo seu posicionamento independente e seus valores ligados à proteção da vida e o incentivo à economia sustentável -, é um partido no qual as pessoas veem um diferencial que facilita a separação da massa confusa de siglas partidárias atualmente registradas no Tribunal Superior Eleitoral.

Somos um movimento que defende as liberdades e a garantia de direitos, especialmente àqueles que ainda não usufruem do que lhes é formalmente garantido. Sabemos que o desenvolvimento econômico é necessário, mas que ele não pode ser feito de qualquer jeito, sob o dano de inviabilizar a nossa vida e daqueles que um dia virão. Defendemos que um meio ambiente saudável é o primeiro passo para alcançarmos uma qualidade de vida adequada e que a igualdade deve ser garantida com justiça.

Esse foi o posicionamento que, enquanto líder do Partido Verde na Câmara dos Deputados, tentei demonstrar ao país, indicando que somos um partido que não aceita a corrupção, independente de qual parte do espectro político ela venha, e que temos uma marca própria que nos diferencia dos demais.

As regras para as eleições de 2018 estão definidas. Durante 45 dias, nossos candidatos e candidatas percorrerão suas bases, grupos de amigos e comunidades atrás de um voto de confiança para representá-los. Este ano será a primeira vez em que a legislação autorizou o investimento em redes sociais para direcionarmos nossas mensagens. Também será a primeira vez em que a Justiça obrigará os partidos a destinarem recursos para as mulheres. Por outro lado, conviveremos com uma enxurrada de mentiras disseminadas com ares de verdade, representadas pela figura das fake news.

E mentiras são fáceis de compartilhar, especialmente porque reforçam o descrédito e a intolerância que temos com tudo aquilo que se coloca como “político”, culpa do fetichismo e do distanciamento entre o povo e as esferas de representação.

Mais do que nunca, cada voto é essencial. Mas esses votos não podem ser vistos apenas como metas quantitativas a serem alcançadas, mas como pessoas a se representar. Se queremos uma democracia mais justa, jamais podemos deixar de entender que os votos que recebemos são nada menos do que pessoas que acreditaram em nós, que depositaram em nós a esperança de um futuro melhor. E, por isso, esperam de nós um comportamento alinhado com aquilo que acreditam.

Por isso, fidelidade é um valor que não abro mão. Este ano, a legislação também permitiu que os parlamentares mudassem de partido para concorrerem às eleições. Muitos o fizeram - não pensando em ocupar uma nova sigla que representasse melhor suas ideias, mas movidos pela ganância e pela necessidade de dinheiro e poder. Fidelidade é um valor que se demonstra nos momentos de maiores tentações. E minha fidelidade ao Partido Verde se manteve firme porque eu acredito que a política não deve ser feita centrada no indivíduo, mas pensada e construída tendo como base o social, o coletivo. E isso é a natureza de um partido político.  

Outro valor que não abro mão é o da relação direta com a comunidade. Desde que assumi o cargo de deputada federal pelo Paraná, jamais deixei que Brasília fosse mais importante do que aqueles que acreditaram em mim. E, por isso, trabalhei estabelecendo uma ponte entre os interesses deles e as oportunidades que o governo federal poderia lhes oferecer.

E é justamente por isso que a atuação daqueles que fazem parte da política precisa ser transparente. A eleição de cada um depende da integridade de valores que carrega consigo. Mais do que antes, esses aspectos serão avaliados por todos e o crescimento do partido depende disso.

Um estrategista de campanhas eleitorais convidado para palestrar na Câmara dos Deputados afirmou que os eleitores querem saber apenas três coisas de um candidato: sua história, o que acredita e o que propõe. Essas três categorias de informação mostram que o eleitor está cada vez mais consciente de que o processo de representação é uma via de mão dupla. Que o voto não é apenas uma chancela dada para alguém ocupar um espaço de poder, mas sim um compromisso de longo prazo baseado numa promessa de atuação que, se não cumprida, causará o rompimento dos laços e, a longo prazo, a fragilidade da democracia.

            Para que o Partido Verde tenha sucesso em 2018, é importante engajarmos uma militância que saiba repassar nosso programa e nossos valores e que os candidatos sejam guiados por eles. O eleitor está cada vez mais crítico e nós, que temos um posicionamento bem definido, podemos aproveitar muito bem a oportunidade, e mostrar que somos diferentes do que está aí e que lutamos por um sistema político mais justo onde todas as pessoas sintam-se não apenas representadas, mas estimuladas assumir seu papel na tomada de decisões. Isso é, de fato, uma democracia representativa.
 

Este artigo foi publicado na Revista Pensar Verde número 23.
Clique aqui para ver a publicação original. 

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